10/4/2009 0h18m - Esporte
Emerson Fernandes: Um lajeadense em terras espanholas
Mesmo fora do país, o preparador físico acompanha diariamente as notícias de sua cidade pelo O Informativo do Vale
Lleida - A paixão pelo esporte, que rege a vida de Emerson Fernandes, está no DNA. Nascido em berço de aficionados, especialmente pelo futebol, o lajeadense que reside há três anos e meio em Lleida, Espanha, viu o pai, Mineiro, dedicar todo o tempo vago a ensinar os benefícios da prática esportiva às crianças. Não foi surpresa, então, ele crescer jogando futebol e na hora da escolha da profissão optar por aquela que lhe daria a oportunidade de atuar na área dos esportes, a educação física. E que tentasse voos mais altos.
Aos 36 anos, Emerson está na Espanha pela terceira vez. A primeira foi por meio de um intercâmbio da Unisc. Na segunda, por conta própria, para trabalhar, projeto que se viu obrigado a interromper por causa do falecimento do pai. Em 2005, em busca de melhores perspectivas, voltou ao país europeu, onde está até hoje.
No Brasil Emerson trabalhou no Lajeadense, no Bira e na Juventus de Teutônia. Como na época o basquete não tinha a estrutura que tem hoje e o Alvi-Azul estava sem apoio, ele não via chances de sonhar e planejar o futuro perto de sua gente. Depois de se formar em Educação Física pela Unisc e cursar pós-graduação em Treinamento Esportivo na Unopar-Londrina, no Paraná, desejava maior valorização. Como as probabilidades de um trabalho duradouro e de melhores condições não apareciam, voltou para Lleida, onde deixou portas abertas e bons contatos com pessoas ligadas ao futebol desde a sua primeira passagem, em 1998.
Diferenças
Emerson trabalhou três anos como coordenador de um clube bem estruturado, mas que só atuava com a base. Após conseguir ficar entre os oito melhores do Mundialito MIC, realizado na Espanha, que envolveu clubes como Arsenal, Barcelona, Real Madrid e Ajax da Holanda, foi chamado para treinar os juniores, em 2008. No início deste ano ele aceitou convite para ser auxiliar técnico e preparador físico do Union Desportiva Alcampell, agremiação da Quarta Divisão da cidade de Alcampell, distante 40 quilômetros de Lleida.
Segundo Emerson, as diferenças no sistema de trabalho são evidentes. Ao contrário de no Brasil, na Europa os treinamentos são em dois turnos apenas no início da temporada. “Prefiro nossa maneira de trabalhar, tanto no sistema técnico quanto motivacional, que agrada por aqui”, explica.
No momento o lajeadense faz curso Treinador Uefa, pois na Espanha existem nove divisões no futebol, e a partir da sétima há exigência do título de treinador. Também faz estágio na U.E. Lleida, clube da Segunda Divisão, além de iniciar um mestrado de Diretor Esportivo que pode definir seu futuro. A volta para o Brasil, com toda essa experiência, é uma alternativa na qual deve pensar mais adiante. Até porque as perspectivas de trabalho na Espanha, a partir de agosto, quando se inicia a próxima temporada, são boas, e ele já faz contatos com clubes que demonstraram interesse em dispor de seu trabalho.
A crise
A crise mundial também afeta o futebol espanhol. De acordo com Emerson, os clubes não têm feito altos investimentos e a tendência é de que esse arroxo só aumente. No futsal a situação é ainda pior. Muitos clubes abandonaram as competições, outros diminuíram salários, e vários brasileiros ficaram sem emprego. Apesar do mau momento, Emerson consegue manter um nível de vida muito bom ao lado da namorada Betina Martins, também lajeadense. Ela completou seus estudos em Lleida e trabalha como professora e personal em duas academias da cidade. “A realidade na Europa nos permite viver em um confortável apartamento, ter um bom carro e trabalhar na área em que gostamos, algo não muito comum para estrangeiros.”
O retorno
Emerson confessa que gostaria muito de voltar para Lajeado, em vista do carinho que a comunidade sempre dispensou à sua família, em especial ao seu pai, Mineiro. “Espero um dia retornar e poder dar minha contribuição, já que há muita coisa para fazer”, encerra.
Hostilidade
A hostilidade com brasileiros que tentam entrar na Espanha, mostrada no noticiário, é bem real, segundo Emerson. Ele explica, porém, que não só os imigrantes do Brasil passam por isso, mas estrangeiros em geral. “Sei, de ouvir comentários, de algumas mulheres que estão sendo barradas pois não comprovam o porquê de sua entrada no país. O rigor se explica pelo expressivo número que vem para se prostituir. Mas conhecidos e familiares que vieram nos visitar entraram sem problemas, pois comprovaram que eram turistas”, explica.
De olho no Florestal
Emerson tem acompanhado pela internet o retorno do Lajeadense. E mesmo de longe está entre os que acreditam no sucesso da reestruturação. “Eles começaram o trabalho de maneira correta, cuidando da estrutura do clube para ganhar o respaldo e a confiança da comunidade. Lajeado tem que entender que, tanto o Nilson quanto o Everton não precisariam estar ali se não fosse para reerguer o futebol profissional e colocar a cidade no cenário futebolístico”, diz. Fernandes sabe que existem cobranças por vitórias, mas tem certeza de que aqueles que acreditaram no atual projeto não vão se decepcionar. “A ideia vai vingar, basta um pouco de paciência. Everton conhece as duas realidades, a brasileira e a europeia, e sabe o caminho para fazer futebol com êxito”, opina.
Helena Baségio